AFINAL AS LEMBRANÇAS VIRAM TEXTO
Rio, 25.07.2009 17:00
O início da vontade de contar como era meu relacionamento
com Papai veio logo depois de sua morte (06.07.2005).
Lembrar fatos interessantes, atitudes especiais de Papai...
Imaginei juntar a família num dia, Mamãe e todos os irmãos e buscar as
memórias e contar-lhes como eu vi Papai. Provavelmente diferentemente de
todos, eu era o mais velho, estive muito tempo com ele e ele esteve presente
em todos os momentos importantes da minha vida. Sem exceção. Às vezes como
se adivinhasse que eu precisava de um "toque"...
O difícil era juntar todo mundo. Até hoje não sei se já estivemos todos
juntos em alguma comemoração, festa ou simplesmente em casa. Família grande
é isso.
Também não sei se num evento destes - e tivemos muitos - haveria clima para
começar a conversar sobre ele...
O fato é que sempre penso nele e penso muito nele.
Não ter filhos, o meu caso, deixa muito tempo livre e a mente pode se fixar
no que importa e no que tem valor...sem interrupções.
Finalmente hoje começo. A idéia deste blog veio há meses. Uma coisa puxa a
outra. Não pensei que o faria em blog. Nosso amigo Luís Sérgio Lima e Silva
criou um blog dele e lá estava uma parte dedicada à Urca e à polêmica
instalação de um IED sem os devidos amparos legais. Ele me pediu que lesse e
acrescentasse alguma coisa. Logo depois o Paulo Monnerat, vizinho e amigo,
amigo da Aninha, ex-IBMista como eu e companheiro das corridas de kart, fez
um blog sobre o Camaro 74 que comprara de mim. De repente veio a idéia de
que uma estrutura parecida com a de um blog seria o melhor canal.
Acrescentável. História a história...
Hoje é sábado 25 de julho. Chuvisca, está bem frio para o Rio, Aninha,
Miguinho e eu estamos sentados na cama enquanto uma das Missões Impossíveis
passa no DVD. Acabamos dormindo... e ao acordar, novamente pensando em Papai
e na cena que mais me vem à mente, resolvi começar o blog.
Fiz questão de só escrever quando sentisse. Na maioria das vezes nem comecei
porque preferi ficar com as lembranças do que parar de tê-las e escrever.
Agora as condições são ótimas. O notebook já estava ligado e a um metro de
mim.
A imagem que vem em primeiro lugar, que antecede as outras, é da mão do
Papai.
Mão bonita, segura. O que de fato vejo é sua mão segurando a minha.
Esta mão é aquela que me segurava com firmeza ao atravessar a rua e que via
constantemente na direção do Cadillac. Afinal eu tinha o privilégio de ir na
frente e sentar-me junto a ele. O Cadillac, automático, tinha os controles
na coluna de direção. Seu banco enorme e inteiriço permitia esta proximidade,
até porque naquela época nem se ouvia falar em cinto de segurança.
A mão que segurava a minha era a que tinha o anel de Engenheiro. Nunca tirou
este anel de grau. A pedra azul escuro e os simbolinhos nas laterais
ornavam-na. E as costas da mão tinham veias ligeiramente salientes, intensas
e davam a segurança necessária.
A mão que segurava a minha eu a via saindo de uma camisa de manga comprida
branca, elegante. Como ele era elegante! Nesta hora imagino-o como na
solenidade em que recebeu o Mérito Aeronáutico!
Curioso como esta cena se mistura. Não era só eu como criança vendo a mão
dele... era eu mais velho também, a mesma mão, a mesma segurança.
Por que esta imagem da mão eu não sei. O que eu sei é que com sua morte uma
espécie de proteção para o que desse e viesse se foi. Não tem mais ninguém
cuidando de mim paternalmente... Ainda bem que tem a Mamãe. Mas ele era o
provedor.
Não tem mais um dos dois a quem eu podia contar sobre as viagens e sobre
tudo o mais...
Também é um lembrete de que agora será a nossa vez de ir embora para sempre.
Mas não é este tipo talvez triste de pensamento que a lembrança de sua mão
traz não.
Traz mesmo é a certeza de que tudo que ele fez por mim me permitiu ter a
segurança emocional, intelectual, espiritual e financeira que tenho hoje. E
ele continua segurando a minha mão como eu continuo segurando a dele!