ANINHA

São Paulo, 1º de agosto, 2009 - 07:30

Papai gostava muito da Aninha.

Isto foi bom para mim porque me senti apoiado na escolhga. Afinal eu tinha sido jesuíta por muitos anos, levei a coisa a sério e só comecei a namorar a Aninha depois de algum tempo de ter saído da Ordem.

Mas dava para ver isto de várias maneiras, a primeira delas é que ele mesmo falava para mim sobre ela.

Aquele gesto que ele tinha de colocar a mão dele e acariciar a cabeça, com a Aninha era sempre assim que ele a recebia.

A recíproca era verdadeira e Aninha se dava bem com ele.

 

 

ESTRIPULIAS...

São Paulo, 1º de agosto de 2009 - 09:00

Só para não deixar de registrar um acidente que poderia ter tido resultado mais grave...

De vez em quando, quando fazíamos alguma travessura, Papai dava um tapa. Antigamente era assim. Ou então dava com o cinto... Quando a gente saía correndo, o cinto era o preferido porque alcançava mais longe.

A casa de Alexandre Ferreira tem uma sala de jantar com janelas de vidro canelado roxo claro. Elas abrem em basculante para fora. Antigamente abriam pouco, mas o suficiente para que a quina da janela ficasse na altura da cabeça de um adulto mas não da nossa.

Um dia alguém fez alguma coisa e Papai saiu correndo atrás, pela porta onde hoje é o escritório do Pilvas (onde tem o poço do lado de fora). Virou correndo à esquerda e naquele corredorzinho apertado...pimba! Bateu com a testa em cheio na quina da janela e caiu para trás. Poderia ter sido fatal.

Foi um corre-corre para o pronto-socorro mas depois ele veio com um curativo de esparadrapo branco do formato de um quepe da Aeronáutica.

Não preciso dizer que na semana seguinte ele chamou um serralheiro e aumentou o curso da janela! 

                     PAPAI CARLOS

 

VIAGENS DE AVIÃO

São Paulo, 1º de agosto de 2009 - 10:00

Papai sempre viajava, porque tinha de fiscalizar algumas obras e estar na inauguração de outras. Na maioria das vezes ele podia levar uma pessoa. Em vez de a Mamãe ir, nós é que íamos, um de cada vez.

Papai registrava cada voo que fez, além de datas etc... anotava o prefixo do avião.

Eu fiz com ele três viagens. Todas muito próximas umas das outras.

Todas muito interessantes.

A primeira foi a Brasília, antes da inauguração da cidade. Portanto eu devia ter uns treze anos.

O avião era um bimotor parecido com um peixe, o C-46. Era do Lóide Aéreo Nacional e seu prefixo era PP-LEA. Acho que a viagem demorou umas quatro horas e ele voava baixo, dava para ver tudo, até bois e pessoas. Sempre eu era apresentado aos colegas e a algumas autoridades presentes. Desta viagem eu só me lembro de ter ido ver o Palácio da Alvorada ainda em obras, com escada de pintor na frente etc...

A segunda foi histórica. Foi em 23 de julho de 1960. Só sei isso por causa dos registros da VARIG na internet. Era a chegada do primeiro Boeing 707 da VARIG que, por acaso, não era o PP-VJA e sim o VJB. Isto não está no site da VARIG, está na minha cabeça.

Avisei no Santo Inácio que eu ia faltar o dia por causa da viagem.

O que eu não esperava é que a viagem fosse tão rápida. Para a época foi um assombro.

Tomamos o Boeing na base aérea do Galeão. Ele saiu às 8:00 da manhã (militares...) E tinha várias autoridades presentes, mais autoridades e mais importantes. O Rio era a Capital do país, não esquecer...

O objetivo da viagem era a da inauguração do Aeroporto de Viracopos. Portanta a data é 23/07/60, o que não consta da Wikipedia.

A inauguração estava marcada para as 10:00.

Às 9:30, vindo de São Paulo, chegou o Governador Adhemar de Barros. Ele e o pessoal do Governo e da Aeronáutica de São Paulo vieram num Caravelle, jato francês de duas turbinas atrás e o avião mais barulhento que já escutei. Se espremia todo e não passava dos 600kmhh.!

O Caravelle pousou e antes de ser inaugurado o Aeroporto, o Caravelle ia decolar de novo e fazer um vôo panorâmico do Aeroporto. O Governador foi e não é que Papai, conhecedor das manhas, deu um jeito de estar perto da porta do Caravelle e fez o voo comigo!?

Às 10:30 o aeroporto foi inagurado. Comes e bebes. Às 11:30 o Boeing 707 decola de volta.

Sabe quanto tempo ele gastou do Rio a Campinas e vice-versa? Não levava bagagens, só os passageiros e tinha preferência de voo! Demorou 35 minutos, coisa jamais vista na época ( e mesmo hoje...) São 420km em linha reta...

Disse isto porque cheguei de volta no Galeão pouco depois do meio dia e Papai me deixou no Santo Inácio onde pude entrar sem uniforme e pegar as aulas DO COMEÇO!!!! Os colegas começaram até a zombar pensando que não me tinham deixado ir. Bom, minha fama aumentou quando eu disse que já tinha ido e voltado!

A última foi mais histórica ainda. Fomos de um avião com três lemes e quadrimotor chamado de Constellation. Era o Lockheed L-1049G, Super-Constellation PP-PDG da Panair do Brasil.

O voo era para inaugurar o Aeroporto de Uberaba.

Naquele voo estava não só o Ministro da Aeronáutica como todo o Comando do Estado Maior.

Me lembro de duas coisas: na ida, em dado momento, o avião reduziu completamente a velocidade dos motores e ficou um silêncio incômodo. Vi que Papai se preocupou. E como ele sempre tomava a iniciativa, foi o único a se dirigir à cabine para se informar. Quando ele voltou os motores já estavam na rotação normal e ele disse que tinha sido uma operação de troca de combustivel entre os tanques para balancear o avião.

Mas o histórico foi em um momento do voo de volta, Papai virou para mim e disse: "não sabemos se este avião vai poder pousar no Galeão!"

O que aconteceu foi que neste exato dia o Presidente Jãnio Quadros renunciou! 25 de agosto de 1961. E nós sem saber exatamente o que tinha acontecido, porque renunciou e se o avião do Ministro (o nosso!) Poderia pousar! Voamos um bom tempo sem saber, finalmente tudo deu certo.

Serve também para mostrar que a renúncia do Jânio não era nada que estivesse no ar. Senão um Ministro nunca teria saído do Rio - o Ministro estava no Rio - para inaugurar aeroporto...

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