A
partir de 1565, surge o primeiro nome português do local, a "Enseada
de Francisco Velho". E por esse nome foi conhecida por mais de
quarenta anos.
Francisco
Velho era casado com Da. Ana de Moraes de Antas, de tradicional família
vicentina, vinda com Martim Afonso em 1532, e descendente de várias casas
reais europeias. Em Portugal, a família era possuidora do tradicional ''Paço de Antas", daí
o sobrenome.
O
casal teve ao menos uma filha, Da. Isabel Velho, casada com outro fundador do Rio de Janeiro,
Antonio de Mariz Coutinho, futuro Vereador e que entraria na literatura
romântica do sec. XIX como o pai de "Ceci", do romance '"O
Guarani", de José de Alencar.
Quando
houve a expulsão dos franceses em março de 1567 e a transferência da
cidade para o Morro do Castelo, a
família Velho passou a residir em morada erguida onde hoje existe
o imenso edifício neo-clássico da "Universidade do Brasil", na
Avenida Pasteur, antiga "Praia da Saudade".
Deve-se
em boa hora lembrar que a topografia de então era bem diferente da atual.
Não existia a Praia Vermelha, nem o terrapleno onde hoje figura a Praça
General Tibúrcio. O Morro da Urca, junto com o Pão de Açúcar e o
Cara-de-Cão formavam uma ilha separada do continente. O oceano Atlântico
comunicava-se diretamente com as praias da Saudade e Botafogo. Somente em
1697 é que se fez o aterro que ligou a Urca ao continente.
Curiosamente,
Francisco Velho veio a ser nosso primeiro "sequestrado" no Rio
de Janeiro, pois foi capturado em Janeiro de 1567 pelos índios tamoios
quando foi ao mato cortar troncos para erguer a capela de São Sebastião.
Velho foi rescaldado com vida pelos Portugueses, depois de épica batalha
travada próximo ao que é hoje o Morro da Glória, a 20 de janeiro de 1567,
onde ocorreu espetacular embate entre cinco canoas portuguesas e cento e oitenta
tamoias, com vitória lusitana onde, ao que se diz, até o próprio São
Sebastião em pessoa apareceu para "dar uma mãozinha". O embate
entrou para a história como a "Batalha das Canoas".
Já
bem idoso, Francisco Velho vendeu
suas terras em 1590 ao seu colega de aventuras, o alentejano de Elvas
João Pereira de Souza Botafogo (15407-1605), sertanista famoso, e que
deixara Portugal, ao que se diz, por embaraços financeiros. João Pereira
emprestaria seu nome em definitivo ao bairro, que se chamou Botafogo
desde então. O curioso e que possivelmente não era nome de nascença, mas
sim apelido, muito comumente dado em Portugal aos arcabuzeiros, homens
especialistas em armas de fogo manuais.
Portanto,
os dois primeiros moradores do bairro já sofriam de velhos problemas
cariocas: sequestro (Antonio Francisco Velho) e inadimplência (João
Pereira de Souza Botafogo).
BAIRRO DA URCA
Este
bucólico bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro foi criado a partir de
1921. Ate então não existiam as Avenidas Portugal e João Luís Alves. O
acesso para a Fortaleza de São João era feito através de embarcação. A
ideia de ligar a Praia da Saudade (atual Avenida Pasteur) à Fortaleza
partiu do comerciante português e Voluntário da Pátria Domingos Fernandes
Pinto, entre 1860/70. "Olhando para a então pequena praia da Urca
onde havia apenas um coqueiro e uma casa de pescador, planejou
transformar o local num bairro, ou melhor, numa nova cidade, com prédios
obedecendo a um novo estilo, elegante e artístico".
Em
marco de 1895 Domingos Fernandes assinou contrato com a Intendência
Municipal objetivando construir um cais ligando a Praia da Saudade à
Fortaleza de São João. A ponte Domingos Fernandes Pinto (que liga Avenida
Marechal Cantuária à Avenida Pasteur é resultado deste primeiro momento
de obras). Em agosto de 1901 foi criada a firma Domingos Fernandes Pinto
& Cia a fim de continuar as obras de 1895. O sonho de Domingos
Fernandes de criação de um bairro foi embargado pelo Exército que temia
que esta obra viesse a tornar a Fortaleza de São João vulnerável.
Mas
a criação do cais foi de utilidade para a Fortaleza facilitando a ligação
da Praia da Saudade com uma trilha na encosta do morro que acenava a
fortaleza. Essa trilha foi o embrião da atual Av. São Sebastião.
Em
1921 o Engenheiro Oscar de Almeida Gama criou a Sociedade Anônima Empresa da Urca objetivando a
construção de cais ligando a Praia da Saudade à Fortaleza. Neste período
governava a cidade o prefeito Carlos Sampaio, que incentivou a obra
realizada. A Sociedade foi responsável pela construção do ancoradouro de
barcos junto à ponte, ( o ancoradouro foi criado para servir como piscina
para competições, possuindo fundo azulejado e arquibancadas), do cais que
corre pela atual Avenida João Luis Alves e Avenida Portugal e do Hotel
Balneário (que funcionou como Cassino da Urca de 1934 a 1946 e TV Tupi,
de 1951 a 1980).
Em
setembro de 1922 a Avenida Portugal foi oficialmente inaugurada.